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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

lítio e Alzheimer


Sergio Ricardo Hototian, médico do Hospital Sírio-Libanês e supervisor do Ambulatório de Psicogeriatria da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), lembra, entretanto, que uma coisa é considerar a doença incurável, outra é considerá-la intratável.

“Apesar de não haver cura para a doença de Alzheimer, observamos que a melhor maneira de minimizar os problemas trazidos por ela é o tratamento, que visa à minimização do impacto comportamental e o retardo da evolução para fases mais avançadas”, diz o especialista.

Outra questão importante, lembra o médico, é que apesar de não haver ainda uma cura para o Alzheimer, é bom lembrar que há duas décadas, na maioria dos casos, o diagnóstico de câncer era considerado uma sentença de morte. “Ou seja, da mesma forma, ainda estamos entendendo o Alzheimer como doença incurável, mas há diversas pesquisas sendo feitas no sentido de tentar mudar o curso da doença de alguma maneira”, explica Hototian.

O especialista lembra ainda que a “demência” – termo usado para indicar a perda da independência pessoal para as atividades da vida – é causada por uma série de condições neurológicas, entre elas o Alzheimer, e é um termo impreciso que remete à ideia de incapacitação total do paciente. No entanto, ainda é utilizado no dia a dia clínico para os casos que apresentam perda da independência. Essa perda de independência, lembra Hototian, é progressiva e pode levar anos até atingir a dependência total do sujeito.

Alzheimer não é algo determinado pela idade

“Uma tendência muito comum, que a maioria das pessoas pensa, é achar que o Alzheimer é algo natural da idade madura, e que acontece em um envelhecimento normal. Em minha opinião, não é. É uma doença neurodegenerativa, progressiva, em que ocorre a morte dos neurônios por mecanismo específico”, diz Hototian.

“A memória de curto prazo é o primeiro domínio cognitivo a ficar comprometido. A idade é o principal fator de risco, mas há muitas pessoas idosas que não desenvolvem a condição”, pontua o especialista, que lembra também que a literatura médica apresenta divergências em relação ao envelhecimento normal e à doença de Alzheimer, não havendo consenso se os sujeitos muito idosos apresentarão a doença.

“Os estudos epidemiológicos apresentam o ‘efeito teto’, efeito da perda numérica por morte dos sujeitos acometidos pela doença devido à queda do número de casos, dando a impressão da existência de um platô aos 90 anos”, afirma o especialista.

O tratamento adequado e o apoio dos familiares, lembra o profissional, é importantíssimo para que o indivíduo acometido de Alzheimer tenha maior tempo de qualidade de vida. Abaixo, Sergio Hototian responde algumas questões sobre a condição.

O que é o Alzheimer e como é feito o tratamento da condição?

O Alzheimer é uma doença degenerativa primária do cérebro,ou seja, de causa não relacionada a outras doenças cujo curso é progressivo e comprovadamente ligado ao envelhecimento.

Por ser uma doença que destrói os neurônios de forma progressiva e lenta, seu diagnóstico é difícil de ser feito no começo da doença.

Além disso, trata-se de “diagnóstico presuntivo”, ou seja, presume-se que seja possível ou provável a presença da doença de Alzheimer no indivíduo idoso que tenha declínio cognitivo progressivo porque o diagnóstico de certeza é anatomopatológico, não realizado para diagnóstico clínico.

O tratamento é baseado na história clínica de amnésia progressiva na presença de perda de independência para as atividades do dia a dia.

A descoberta de que a doença de Alzheimer afeta o sistema colinérgico, a acetilcolina, é a base do tratamento com medicamentos que promovam o aumento desse neurotransmissor.

É possível interromper a evolução do Alzheimer definitivamente?

Não há, até o momento, nenhum tratamento, farmacológico ou não, que interrompa o curso da doença de Alzheimer.

Além do tratamento medicamentoso, há também o tratamento não farmacológico? Como eles se complementam?

O tratamento farmacológico da demência de Alzheimer é baseado nos medicamentos inibidores de acetilcolinesterase : Donepezil, Rivastigmina, galantamina ou a memantina, que estimula o sistema glutamatérgico.

A reabilitação cognitiva, baseada na estimulação cognitiva, apresenta bons resultados quando associada ao tratamento farmacológico. Estudos mostram que ambos os tratamentos isolados apresentam menor benefício quando comparados ao tratamento combinado.

Quais são os tratamentos que estão em desenvolvimento e que podem estar disponíveis à população nos próximos anos?

Drogas que alteram o curso da doença estão em fase de estudo. O lítio – uma espécie de sal – é a principal delas. Um estudo brasileiro pesquisa os efeitos do lítio e suas propriedades neuroprotetoras contra a doença de Alzheimer. Essa pesquisa é do laboratório de Neurociências do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP.

O estudo, que vem sendo citado em diversas revistas científicas de referência internacional, demonstra que o lítio interrompe, por meio de mecanismo enzimático, a cadeia de formação da proteína beta-amiloide, principal mecanismo fisiopatológico da doença que promove a morte celular e a desorganização da arquitetura neural .

No entanto, o lítio ainda não pode ser considerado medicamento de uso no tratamento das demências.

A maior parte dos estudos atuais está focada no diagnóstico precoce da doença, especialmente com a mudança dos critérios diagnósticos que em futuro próximo poderão incluir marcadores biológicos, como o exame do liquor, por exemplo.

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por Enio Rodrigo
Fonte:http://oqueeutenho.uol.com.br/portal/2010/11/18/alzheimer-e-velhice-idade-nao-e-determinante-mas-fator-de-risco-para-a-condicao/

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