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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Polirradiculoneurite e Fisioterapia

Síndrome de Guillain-Barré
Definição * Em 1916 Guillain, Barré e Strohl chamaram a atenção para uma polineuropatia desmielinizante inflamatória aguda que causa lesões difusas dos nervos periféricos mistos, caracterizada por distúrbios tanto sensoriais quanto motores. O quadro é hoje conhecido como Síndrome de Guillain-Barré (SGB) ou Polirradiculoneurite (PRN) aguda.

Incidência/Epidemiologia

* Com a virtual erradicação da Poliomielite aguda, a SGB tornou-se a causa mais comum de paralisia generalizada aguda, com uma prevalência de 0,5-4 por 100.000 pessoas. * Ocorre em todos os grupos etários, embora seja mais frequente nas faixas de 16-25 anos e de 45-65 anos. * Observa-se ligeira predominância no sexo masculino. Etiologia * A causa exata do distúrbio não é conhecida. De modo geral, manifesta-se após uma infecção respiratória ou gastrointestinal leves. Os sinais de infecção geralmente desaparecem antes que se iniciem os sinais da SGB.

Fisiopatologia * Ocorre inflamação aguda e desmielinização de fibras periféricas sensoriais e motoras. * Os aspectos patológicos, dependentes de lesões inflamatórias, caracterizam-se por congestão, edema e infiltração de células mononucleares. * A síndrome está associada a ataque auto-imune, no qual o sistema imune da própria pessoa gera anticorpos contra as células de Schwann. Nos casos mais graves a desmielinização segmentar é tão extrema que os axônios subjacentes também se degeneram. * A destruição das células de Schwann impede a condução de sinais elétricos ao longo das vias sensoriais e motoras do sistema nervoso periférico.

Apresentação Clínica * As manifestações clínicas da SGB costumam se instalar de maneira incidiosa, traduzindo-se, em geral, por astenia, ligeira hipertermia, sintomas de infecção respiratória banal ou do tipo digestivo, dores articulares e/ou musculares. * Seu progresso é proximal e simétrico, podendo comprometer todos os grupos de músculos, inclusive dos membros superiores, do tronco e da face. * Quase 50% dos pacientes tem atrofia dos músculos faciais. * O comprometimento dos nervos bulbares pode determinar disfagia, disartria e disfonia, além de desordens cardiorrespiratórias. * A paralisia dos músculos respiratórios, ocasionando queda da capacidade vital, ocorre em 30% dos pacientes. * 42-75% dos pacientes têm alguma alteração na sensibilidade: hipersensibilidade ao toque. * A disfunção autônoma acontece em certos casos mais graves e pode levar a óbitos súbitos não esperados, normalmente devido a arritmias cardíacas. * A dor é uma característica frequente que aparece muito cedo no distúrbio, sendo proeminentes em alguns casos: dor profunda em queimação. * Sintomas adicionais que podem estar associados à SGB: * Visão embaçada * Tontura * Constipação * Incontinência Urinária * Palpitações * Sintomas que exigem emergência: * Dificuldade de deglutição, babar em excesso * Dificuldade respiratória * Ausência temporária de respiração * Desmaio

Evolução * Para ser classificada como SGB, o tempo transcorrido desde o início até a incapacidade máxima deve ser menor que 4 semanas. * Primeira fase: instalação, 7-10 dias. * Segunda fase: período de estado, 2-4 semanas. * Terceira fase: resolução da sintomatologia, 2-3 semanas.

Prognóstico * A síndrome é de ciclo autolimitado e a recuperação costuma ser completa na maior parte dos casos. No entanto, sequelas, como déficits motores e hipotrofias musculares, podem ocorrer em um número reduzido de casos. * Cerca de 3% dos pacientes com a SGB morrem por insuficiência cardíaca ou respiratória.

Complicações * Contraturas peri-articulares: causa importante de incapacidade residual. * Insuficiência respiratória. * Colapso vascular.

Diagnóstico * O diagnóstico deve se basear nos dados clínicos e no exame do líquido cefalorraquidiano (LCR). * O LCR é o exame fundamental para o diagnóstico devido ao achado patognômico de dissociação proteíno-citológica, sendo que a hiperproteinorraquia perdura durante meses.

Diagnóstico diferencial * Deve ser considerado principalmente com a poliomielite aguda (nas crianças e nos jovens) e com as manifestações nervosas da porfiria aguda intermitente.

Exames Complementares * O exame neuromuscular evidencia disfunção motora e pode também evidenciar a disfunção de funções involuntárias do corpo. * A VCN (velocidade de condução nervosa) indica desmielinização. * A EMG evidencia falta de estimulação nervosa. * O ECG pode, em alguns casos, evidenciar anormalidades.

Tratamento * A abordagem multiprofissional de resolução dos problemas é recomendada no tratamento da incapacidade, de modo a maximizar a função. * Compreende medidas fisioterapêuticas, cuidados respiratórios (desde que necessários) em unidades especializadas. * Tratamento clínico: plasmaférese e a imunoglobulina.

Tratamento Fisioterapêutico * Os aspectos importantes da conduta fisioterapêutica são: prevenção de contraturas, controle da dor e cuidados respiratórios. * A fisioterapia é, em geral, direcionada para o alongamento e para o alcance dos movimentos durante a fase aguda da doença. * Na fase de reabilitação, a fisioterapia é direcionada para o fortalecimento e funcionalidade dos movimentos. * Quando recomeçam a aparecer os movimentos voluntários, os exercícios devem ser leves, para prevenir as lesões por sobrecarga dos músculos parcialmente desnervados. * Em alguns casos, o paciente pode ser ventilado e o papel do fisioterapeuta é ajudar a prevenir a atelectasia quando a respiração está comprometida. É essencial monitorar os pacientes vulneráveis. * Facilitação neuromuscular propioceptiva. * Movimentos grandes, na média da amplitude têm propriedades de mitigação da dor.

Conclusão * Por muito tempo acreditou-se que a SGB fosse puramente desmielinizante. Atualmente, são reconhecidas também formas axonais desta enfermidade. * Por ser de etiologia desconhecida, não há nenhuma maneira conhecida de prevenção. * Sendo de evolução rápida e de grande incidência sobre a população, deve ser dada verdadeira importância a essa síndrome. * A ampla gama e a natureza constantemente mutável dos problemas, salientam a necessidade de intervenção multiprofissional integrada e coordenada para o tratamento bem-sucedido da SGB. * Para o fisioterapeuta, os pacientes com SGB constituem um desafio, para o qual a melhor conduta é a abordagem de resolução de problemas.

*** Este artigo encontra-se publicado no site FisioWeb WGate - Referência em Fisioterapia na Internet - www.fisioweb.com.br

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